27.1.16

Sexto andar

Tinha cara de desconfiada, mas podia ser só calada, ou então não se interessar minimamente por ti. Talvez fosses tu que pensasses demais. Cruzavam-se diariamente no corredor do prédio em que ambos trabalhavam. Ela a caminho do sexto andar - umas duas vezes subiram juntos no elevador e tinhas registado o andar dela -, tu entre o quarto e o quinto andar. Talvez não fosse muito normal que tu estivesses tantas vezes num corredor onde nada tinhas a fazer, mas fechavas-te na casa-de-banho do andar só para que o segurança não se perguntasse porque andavas para trás e para frente sem entrar em porta alguma.

Ela tinha cara de desconfiada, mas era uma desconfiada muito bonita. Um dia ainda haverias de lhe dar os bons dias ou boas tardes, tentar perceber como seria a voz dela, se ela já alguma vez tivesse reparado em ti. Tu ias a pé do quinto para o sexto andar - essa coisa de não fumar no varandim de entrada do prédio roubava-te privilégios, já tentaras ficar uma ou outra vez por ali à conversa, mas o teu diretor perguntara-te que, se o cigarro estava a acabado, podias subir (e sim, ele sabia que não fumavas) - quando te cruzaste com ela nas escadas. Ela pareceu surpreendida. Achava que trabalhavas no sexto andar.