3.1.13

Oração - 2


Pássaros levantam da areia
e vêm teus lábios salgados
feridos de vida,
um permanente ardor dos sentidos
por entre os teus dedos a saltitar.
Vem e recomeça o trilho da tua paixão,
medita de pés juntos, envoltos na areia,
e um pássaro, ao ficar para trás,
permanece, não no céu,
mas nos teus sonhos.
É a mão que acaricia a pedra
e lhe reconhece as feições dos animais mortos.
Bebe-se, junto à areia,
o sangue lavado,
e são as pequenas crianças
quem se ergue do fundo do oceano.
Tudo seria, ainda assim,
infinitamente mais pequeno e útil,
a tal bastaria a pronunciação de um nome,
o erguer de um olhar.
Todas as pequenas coisas
cheias de pormenores inexplicáveis.
Desconheço onde ficaram as impressões
digitais de todos estes homens de pedra
escavados como grutas pelas ondas do mar.
Desconheço a cor dos lábios das sereias
que encantaram, até, os homens mais santos.
Ser daqui é ser de longe.
Tenho o corpo cheio de vento,
os olhos cheios de uma água escura
que escorrega pelas rochas.
Tenho as manhas das marés, a lucidez dos pássaros.
Sou da imensidão dos espaços, da luz.
Não, não há música.
Pede-se o silencioso respeito das matinas,
o leve sussurro do terço
deslizando
nas pontas dos dedos.
Não, não há música.
Apenas o ritmo dos passos
ecoando nave adentro,
as estátuas sorridentes
beijadas pelas lágrimas
que não se podem conter.
Era o queimar das nuvens,
as árvores devastadas.
Pela sombra, as aves, caindo devagar.
A noite azul-cobalto dos sentidos,
o não saber dizer a cor dos teus olhos,
o tom da tua voz.
Os animais felizes junto à porta da entrada.