17.4.12

Fotografia em Veneza

Para o Paulo Bandeira Faria

Sentados os três na escadaria, o escritor vai desenrolando as narrativas da cidade aos ouvidos fechados dos seus dois filhos. A imagem fixa-se na fronte sonhadora do escritor, no centro de tudo, como se iluminado pela mão de um qualquer pintor renascentista. Das histórias que o escritor contou naquela tarde, não há nenhum registo, e mesmo se perguntassem a uma das crianças, seria parca a sua memória. No entanto, daqui a muitos anos, quando do escritor sobrarem apenas os livros e os afetos e as crianças forem aquilo que, pela vida, foram desejando ser, uma delas lembrar-se-á exatamente do que falava o seu pai, naquela tarde, em Veneza. Não há forma mais poderosa de entender o valor da literatura.