27.3.12

V.

Ele era um homem e tinha a capacidade de fazer os outros sonhar. Quem o rodeava vivia fascinado com essa sua capacidade e queria, a cada momento, um novo sonho. Ele era um homem e gostava de ver os outros felizes. Oferecia sonhos.

Ele era um homem e tinha a capacidade de fazer os outros sonhar. Por ter assim sonhos já prontos, disponíveis, as pessoas desistiam de sonhar por si. Cercavam o homem e exigiam-lhe sonhos, em troca de coisas tão simples quanto sorrisos ou pratos de comida. O homem oferecia sonhos e sorria.

Ele era um homem e tinha a capacidade de fazer os outros sonhar. Mas de tanto sonhar para os outros, acabou por cansar-se. Era cada vez mais complicado sonhar para os outros, viver para os outros, oferecer para os outros. O homem ficava fechado em casa e apenas deitava sonhos pela janela, rabiscados em papéis. Quando um dia lhe abriram a porta, para saber como estava, o homem tinha desaparecido.