21.3.12

Pensão

O único lugar que havia, em toda a cidade, era um pequeno quarto, numa pensão, dividido com alguns desconhecidos. No entanto, ele já tinha tido a sua dose de desconhecidos nesse fim de semana. Saíra de casa bem cedo em direção a uma cidade que desconhecia. Por lá, demorou ainda uma boa hora a encontrar a casa onde ficaria. Era dia de romaria e quem lhe oferecera uma cama estava, aparentemente, doente.


Ao chegar à casa, em lugar de uma noite de conversa com direito a quarto de hóspedes transformara-se numa noite de cuidados com uma indisposta desconhecida. A extrema simpatia da inconsciente fez com que a noite não fosse uma experiência traumática, mas ainda assim, duas noites seguidas com desconhecidos seria demasiado.

Pensou que talvez todas as cidades da região vivessem uma romaria contínua. Talvez por isso, na segunda cidade onde aportou, já todos haviam reservado os quartos para outros hóspedes. A simpatia destoutro desconhecido não era menor. As intenções as melhores. Mas ele acabou por preferir ficar à deriva pela noite.

Acabou por queimar etapas viajando, noite inteira, para cá da fronteira, de regresso a casa. Durante horas a fio, cruzou-se apenas com alguns camiões, ainda no início da viagem. Com isso, evitara a espera, a demora, a frustração. Manteve-se acordado graças à música da rádio e à adrenalina de poder ter tudo naquele instante. Correu perigo. Dormiu pouco, mas satisfeito. Na sua própria cama.