17.8.11

Frágil (2011)

Com os lençóis desembrulhados
sobre o leito, com as mãos
desapertando corpos, a
nudez dos meus sentidos, o
enquadramento da minha
figura, a mão, infinitamente
pequena e leve.
Assim me reconheço
e sigo o caminho das pedras,
marcação exígua e delirante
da maciez das pálpebras
enganadas pelas nuvens.
Oiço-me sussurrar baixinho
neste leito,
onde toda a entoação da voz humana
tende a reduzir
o indivíduo receptor
ao estado de serpente fascinada
e entendo
quão grande pode ser
a instabilidade do momento.
Depois digo-me,
ensino-te o caminho, fica longe,
as mãos rasgando vestidos,
o cheiro das paredes escavacadas,
e eu, sozinho, mais uma vez,
a cuspir inventado sobre o colchão.
Faz então silêncio
em todo o comprimento da sala,
só um leve crepitar
ondula a minha respiração.
Pergunto pelo meu corpo,
deixo cair em mim
as mãos do esquecimento.
Seguro, com os pés,
a minha existência eréctil,
e apercebo-me da imensa
fragilidade de tudo isto.